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“Live” no Instagram debate rastreabilidade da cotonicultura na moda pós Covid-19
06 de Maio de 2020

A única certeza que o mundo tem, depois de ser surpreendido por uma pandemia de proporções sem precedentes, é de que nada será como antes. O que Covid-19, moda e rastreabilidade de algodão têm a ver com isso, esteve em pauta hoje (05/05), durante live no Instagram, em um dos mais respeitáveis perfis sobre moda e consumo consciente no Brasil, o Portal Ecoera. Liderado pela fundadora do movimento Ecoera e especialista em sustentabilidade, Chiara Gadaleta, o movimento convidou o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero, para falar sobre o pilar da Rastreabilidade, um dos grandes compromissos da entidade. Portocarrero explicou como um trabalho que foi desenvolvido, e vem sendo aprimorado há quase duas décadas, poderá se tornar chave para o início de um posicionamento diferenciado, no atendimento das expectativas da nova mentalidade de consumidor que deve surgir quando as medidas de distanciamento social forem abrandadas. Levando conceitos como "antes e depois da porteira" para um público formado, principalmente, por profissionais da moda e fashionistas, Portocarrero informou que o Brasil já rastreia seu algodão "desde a lavoura até a porta da fábrica". Ele enfatizou a posição do país como grande player global de mercado e maior fornecedor mundial de fibra com certificação de sustentabilidade, através do Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Better Cotton Initiative (BCI). "A rastreabilidade foi o primeiro grande projeto da Abrapa, há quase 20 anos. Falar em selo de certificação só faz sentido se houver como fazer o caminho de volta e mostrar cada processo. Não basta ser honesto, tem que provar que é", afirmou. Segundo Portocarrero, a indústria que leva a matéria-prima para dentro da sua planta tem o direito de saber como, e se, a garantia é verdadeira. "Hoje, 100% do algodão brasileiro é rastreável. Entregamos, na porta da indústria, condições para o que comprador possa ver quem produziu, onde, em que fazenda, de que região geográfica do país. Se quiser, ele pode enxergar aquela fazenda no Google Maps, saber qual foi a máquina que beneficiou o algodão, o laboratório que analisou a pluma e as características intrínsecas do produto: tudo num código de barras que vai junto com o algodão, assim como a garantia de que esse produto foi certificado pelo ABR e licenciado pela BCI", detalhou. O licenciamento feito pela ONG Suíça BCI é o de maior reconhecimento no mundo e é familiar ao público da live. Até chegar ao ponto de rastrear o algodão da lavoura à indústria, todo um trabalho de base foi desenvolvido pela Abrapa e pelas suas dez associações estaduais, disse Marcio. "Não é um selo com um leiaute bonito, que você manda imprimir numa gráfica, na hora que quiser. Tudo tem auditoria, processos e normas", diz. Contudo, segundo Portocarrero, o fato dos demais elos da cadeia ainda não terem um protocolo de rastreabilidade faz com que a informação se perca, assim como a oportunidade de dar ao consumidor final a chance de "mergulhar" na história daquele produto, desde o início do seu ciclo de vida. Conhecer para encantar Transpor a "porteira", ligando a cidade ao campo é uma das possibilidades que a rastreabilidade dá. Chiara Gadaleta relatou que ela mesma é um exemplo de quem, primeiro, teve de conhecer e entender, para acreditar. "O que acho lindo e me fez encantar pelo ABR nasceu ali, numa lavoura, numa fazenda em Goiás, quando vocês me convidaram para ver de perto os processos", afirmou, referindo-se à visita que fez com representantes da Abrapa à fazenda Pamplona, do Grupo SLC Agrícola, em Cristalina/GO, como parte do projeto "Pegada Hídrica". Conduzido pelo Ecoera com a Vicunha Têxtil, o projeto mensurou o uso da água no ciclo de vida de uma calça jeans no Brasil, desde a lavoura ao consumidor final, e contou com a colaboração da Abrapa, com informações sobre a produção da matéria-prima. Gadaleta disse ainda que se tornou uma "militante" do algodão brasileiro à medida em que tomou mais contato com o programa Algodão Brasileiro Responsável. "O ABR tem muito para ensinar para o mercado mundial, não só como uma iniciativa assertiva, mas madura. O consumidor na ponta quer saber de onde veio o algodão. Um selo não é mais suficiente", pondera Chiara Gadaleta. Pensar localmente Uma das conclusões da live, além da necessidade de difundir a rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia produtiva, é de que, mais que nunca, será necessário pensar a importância do "local" em lugar dos antigos global e glocal. "Valorizar o produto brasileiro é cuidar das nossas pessoas, do emprego, da arrecadação nacional de impostos. É entender o valor disso tudo e diminuir a dependência exacerbada entre os países", considera Portocarrero. Ele conclamou o público a refletir sobre estratégias de valorização para causa de uma moda "feita no Brasil".  A indústria nacional é o nosso maior cliente, e usa 700 mil toneladas de algodão por ano. Se os nossos 220 milhões de consumidores possíveis no país derem preferência aos produtos brasileiros, seria muito bom para o país", analisou. Novas prioridades Tanto o representante da Abrapa quanto a apresentadora da live consideraram que as prioridades mudaram, nos últimos dois meses, com as crises geradas pela pandemia na saúde, na economia e na renda das pessoas. "O grande esforço que a cadeia tem de fazer é para atrair esse consumidor pós Covid-19. Sabemos que, primeiro, ele vai cuidar da saúde e da própria sobrevivência, e, só então, vai lembrar de consumo de bens não tão essenciais. Isso em toda a cadeia. O magazine vai se preocupar muito mais em desovar o estoque que já tem para depois pensar em produzir coisas novas. A indústria vai usar o algodão armazenado para transformar em fio, tecido e roupa, antes de começar a comprar novamente matéria-prima. Mas o mundo não vai acabar e o consumidor vai voltar. Só não será o mesmo", concluiu o diretor da Abrapa.

ALGODÃO PELO MUNDO #16
05 de Maio de 2020

⬆Algodão em NY - Os rumores da semana passada de compras da China mostraram-se coerentes após a divulgação das vendas externas dos EUA esta semana.  As vendas semanais dos americanos foram de surpreendentes 97 mil toneladas, com quase a totalidade para os Chineses.  Apesar destas compras a princípio indicarem movimentação de estoques e não aumento de uso da fibra, os contratos de algodão negociados na Bolsa de NY (ICE) tiveram mais uma semana de alta.  Os preços da pluma subiram 2,1% esta semana, com alta acumulada de 14,5% no mês de abril. China - Segundo fontes no país asiático, as compras desta semana foram feitas por duas estatais (Chinatex e CNCGC) e não pela Reserva do governo.   Praticamente todas as compras Chinesas foram de algodão americano, possivelmente por razões geopolíticas.  Importante acompanhar estes movimentos, pois até o mês de Mar/20, o Brasil era líder nas exportações de algodão para o maior importador do mundo. Webinar Abrapa - A Abrapa realizou nesta segunda (27/4) o debate Reflexos do Covid-19 no Mercado Global de Algodão.   O evento virtual foi o primeiro do Ciclo de Debates: Promoção e Presença do Algodão Brasileiro no Exterior, realizado em parceria com Apex Brasil e Anea. Consumo Global - O palestrante do evento, Marcos Rubin (Agroconsult) destacou que a recessão na economia global causada pela Covid-19 está afetando muito o mercado de algodão. Segundo ele, a demanda global, que estava em patamares de 26 milhões de toneladas no ano comercial de 2018/2019, deve cair para cerca 22,3 milhões de toneladas em 2019/20. "A diferença, cerca de quatro milhões de toneladas, equivale a quase uma safra americana". Área Plantada - Por outro lado, Rubin também destacou que a área plantada global de algodão deve encolher em torno de 12% na safra 2020/21 como resposta aos menores preços.  A estimativa é que a área global caia de 33,8 para 29,7 milhões de hectares.  O plantio da safra 20/21 está começando nos principais produtores do mundo: EUA, China e Índia. Área 20/21 - Milton Garbugio, presidente da Abrapa, manifestou sua preocupação com a tendência do Brasil também reduzir área devido à queda de preços causada pela recessão global.  Porém, diante da crise, Garbugio também vê oportunidades. "Acreditamos que haja muito boas perspectivas, mesmo nessa turbulência, e estamos trabalhando nelas. Somos obrigados, agora, a entender não apenas de produzir e vender a fibra. Temos de pensar em termos de geopolítica", concluiu Garbugio. Safra 2019/20 - A Abrapa divulgou a estimativa de produção de algodão na safra 19/20.  Segundo a entidade, a produção 19/20 deverá ser ligeiramente (3%) superior à última safra: 2,87 milhões de toneladas, em uma área de 1,62 milhões de hectares, com produção de 1.771 kg de pluma por ha.  Mato Grosso (69%) e Bahia (21%) seguem como os principais produtores nacionais. Plantio - O USDA divulgou esta semana mais um relatório sobre o progresso do plantio para a safra 2020/21.  Já foram plantados 13% da área, um pouco acima da média dos últimos cinco anos: 11%.  O Texas, maior produtor americano, já plantou 18%.  Apesar do USDA considerar que o país plantará a mesma área da última safra, muitas estimativas privadas consideram uma queda na área. Exportações - O Brasil exportou 24 mil toneladas de algodão em pluma na quarta semana de abril.  O total exportado em abril/20 até a quarta semana foi de 72,4 mil tons.  A ANEA revisou os números previstos de exportação de algodão brasileiro esta safra, de 2,05 milhões, para 1,95 milhões de toneladas.   Mesmo com a revisão, este número é de longe o maior da história. Preços - A tabela abaixo ⬇ mostra os últimos movimentos de preços, índices e câmbio que impactam o mercado de algodão.

Covid – 19 foi centro das discussões na reunião da Câmara Setorial do Algodão e Derivados
30 de Abril de 2020

Se as condições de clima se mantiverem favoráveis, o Brasil deve colher 2,86 milhões de toneladas de algodão (pluma) na safra 2019/2020, mantendo a expectativa dos produtores em janeiro. O total que segue para a indústria internacional deve ser de 1,95 milhões de toneladas até julho, uma redução em relação aos 2,05 milhões de toneladas previstos, mas, ainda assim, um recorde histórico. Neste período, a área plantada nos 10 estados produtores totalizou 1,6 milhões de hectares. Os números foram apresentados nesta quarta-feira (29/04), durante a 58ª Reunião da Câmara Setorial do Algodão e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a segunda do ano, realizada, pela primeira vez, via internet. A Câmara reúne representantes dos diversos elos da cadeia produtiva da fibra e os debates hoje giraram em torno dos impactos da Covid-19 na produção, indústria, comércio e logística. "Temos à frente desafios do tamanho de uma safra de quase três milhões de toneladas, mas os maiores serão para a próxima. Não há ainda uma estimativa clara sobre retração de área, mas é certo que vai acontecer, com a perspectiva de redução mundial da demanda por algodão, os baixos preços do petróleo, que favorecem as fibras sintéticas, e o comércio no mercado interno, praticamente, parado nesses últimos meses", contextualiza Milton Garbugio, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e também da Câmara. De acordo com Garbugio, a Abrapa está argumentando com o Governo Federal o aprimoramento de mecanismos para minimizar os impactos da pandemia na cadeia produtiva. Dentre eles, o reajuste do preço mínimo. A Associação defende um valor de R$ 91,97 pela arroba de algodão, contra os atuais R$ 72/arroba. O índice é a referência para os programas governamentais de crédito e de suporte à comercialização. Mesmo com o reajuste, o preço mínimo ainda estaria abaixo do valor de mercado. Além disso, o cálculo é feito com base em uma média nacional de custos, que o torna ainda mais distante da necessidade de estados onde é mais caro produzir algodão, como a Bahia. Indústria Se a produção nesta safra mantém os planos inalterados, a indústria têxtil e de confecção amarga prejuízos em cascata, e o setor também negocia medidas efetivas com o Governo Federal e de estados como São Paulo. Lockdowns, desemprego e incertezas derrubaram o consumo, e a retomada deve ser lenta. "As empresas não conseguem cumprir os compromissos, começando pelos varejistas, que tiveram suas lojas fechadas, passando para o confeccionista, chegando à indústria têxtil, e, em breve, aos fornecedores", explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Fernando Pimentel. Segundo ele, sem capital de giro, esses elos não aguentam muito mais tempo. A retomada, para a Abit, começará a partir de junho. "Se tudo der certo, vamos iniciar a operação de uma maneira 'mais arrumada', com 30% a 50% dos negócios, e, lentamente, evoluir até chegar a, no máximo, 75%, no final do ano", disse. Às vésperas do Dia das Mães, a segunda maior data do varejo, a Abit espera em torno de 30% a 40% de movimentação sobre a expectativa prévia. "Mesmo onde já há lojas abertas, como em Santa Catarina, ou para quem tem e-commerces mais bem desenvolvidos, o movimento ainda está menor que 50% do normal", revela. Máscaras A conversão de parte da produção de roupas para as máscaras de proteção social, majoritariamente, feitas de fibras naturais, segundo Pimentel, não consegue compensar as perdas nem impulsionar o consumo de algodão.  "Se cada brasileiro comprasse quatro máscaras, teríamos cerca de 1 bilhão de unidades, e uso de 60 a 70 milhões de metros de tecido. O setor, que fatura R$15 bilhões por mês, se vivesse de fazer máscara, faturaria de R$3 bilhões a R$ 4 bilhões por ano", compara.  "Estamos trabalhando por uma retomada de consumo organizada, protocolada e segura, para uma normalidade que ainda não sabemos qual será", diz Pimentel. Ele afirma que o câmbio ajuda a indústria nacional de vestuário, mas não descarta uma investida da China em produtos com preços muito abaixo dos nacionais no mercado. Embarques O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique Snitcovski, falou sobre a revisão na meta para 2020 e o alongamento dos embarques, que acarretará maior estoque de passagem em 2021. Os destinos principais do algodão brasileiro representam 80% das exportações. Eles são China (32%), Vietnam (15%), Bangladesh (12%), Paquistão (11%), Indonésia (10%) e Turquia (9%).  "O Brasil está crescendo em todos esses destinos. Para a China, o volume embarcado nessa safra vai ser recorde. Mas ainda temos espaço para crescer bastante dentro das importações desses países", disse. A projeção da Anea para o segundo semestre de 2020, safra 2019/2020, é de exportar 1,05 milhões toneladas de algodão em pluma, pouco abaixo do segundo semestre do ano passado, que ficou em 1,08 milhões toneladas. "Já vimos que, com bom planejamento, conseguimos recordes como o de mais de 300 mil toneladas em um único mês. Isso dá credibilidade para o país. O Brasil está competitivo e esperamos que, à medida em que os problemas sejam contornados e as atividades voltem ao normal, possamos aumentar participação nos principais mercados consumidores", concluiu Snitcovski. Insumos O fornecimento de insumos, como defensivos químicos e fertilizantes, também estava representado na reunião. Para Marcio Trento, da CropLife Brasil, essa cadeia pode sofrer algumas restrições no suprimento, principalmente, na Índia, onde o lockdown é mais severo. Junto com a China, esses dois países são a origem da maior parte dos princípios ativos. "A indústria vem tentando minimizar qualquer tipo de impacto, antecipando algumas importações, para que tenhamos os nossos produtos disponíveis para garantir a produção nacional. Estamos recomendando o mesmo aos nossos clientes. A ideia é evitar possíveis gargalos", falou. De acordo com o executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), considerando-se todo o fluxo logístico da cadeia de fertilizantes, até o momento, as operações estão normais, "embora com pequenas particularidades nas fábricas, como o novo padrão de distanciamento entre funcionários, por exemplo", afirmou.

Cotonicultores debatem o mundo pós-covid e as perspectivas para o algodão
28 de Abril de 2020

Após o coronavírus, a disputa pelo mercado mundial ficará ainda mais acirrada para os produtores brasileiros de algodão, num cenário em que sobra oferta e faltam clientes. As perspectivas para o setor foram debatidas na noite de segunda-feira (27/04), em um webinar fechado para a cadeia produtiva da fibra, promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). O evento virtual foi o primeiro do Ciclo de debates: promoção e presença do algodão brasileiro no exterior, que integra o escopo do "Projeto Setorial de Promoção das Exportações do Algodão Brasileiro", estratégia de marketing para reforçar a participação da pluma nacional na Ásia, com foco em incremento de percepção e fortalecimento de imagem do produto. O convidado especial do evento foi o sócio-diretor da Agroconsult, Marcos Rubin. Também integraram as discussões, os presidentes da Abrapa, Milton Garbugio, e da Anea, Henrique Snitcovski, além do diretor de relações internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte. A mediação ficou a cargo do professor do Insper e consultor, Marcos Jank. De acordo com Rubin, a recessão na economia global – decorrente das quarentenas, lockdowns e o consequente desemprego e queda na renda – vai afetar severamente o mercado de algodão. Prova disso é a demanda global, que estava em patamares de 26 milhões de toneladas no ano safra de 2018/2019, e deve cair para cerca 23,3 milhões de toneladas em 2019/20. "A diferença, cerca de quatro milhões de toneladas, equivale a quase uma safra americana". Um recuo, segundo Rubin, de 10 anos no tempo. "Do ponto de vista estrutural, a demanda foi da ordem de 22 milhões de toneladas, 17 anos atrás", comparou. Antes da Covid-19, a perspectiva para as exportações globais era em torno de de 9,4 milhões de toneladas. Mas, até o final de julho, esse volume cair para, aproximadamente, 7,7 milhões de toneladas. "Quase não houve demanda de algodão nos meses de maio, junho e julho. Com os contratos que já foram estabelecidos, a procura por novos carregamentos será muito pequena. Do total estimado, 5,7 milhões de toneladas já foram embarcados", explica. Rubin prevê uma retomada suave da demanda para 2021. Batalha pelo mercado Na disputa com os Estados Unidos, o Brasil vinha levando vantagem em mercados como a China, por conta das guerras tarifárias. No momento, os americanos ainda estão sofrendo mais, pelo fato da pandemia golpeá-los em cheio, justamente, no período em que mais exportam algodão: entre abril e agosto de cada ano. O câmbio, para os brasileiros, também estava ajudando a compensar a queda nos preços da commodity, mas, segundo Rubin, mesmo essas vantagens podem se diluir em breve. "Após julho, os EUA devem voltar ao jogo em condições de igualdade com o Brasil, e disputaremos esse mercado a tapa", diz. Para abrandar as previsões para 2021, o consultor torce por uma retomada da política de formação de estoques da China. O gigante asiático dá indícios de voltar a comprar algodão dos seus produtores, o que obriga a indústria chinesa a importar. "Não temos qualquer ingerência, mas isso pode fazer com que tenhamos um mercado maior do que se imagina hoje", conclui. Projeto Ásia No final de 2019, a Abrapa firmou um convênio com a Apex-Brasil para a criação do Projeto Setorial de Promoção das Exportações do Algodão Brasileiro, um plano que abarca a criação de uma marca própria, para diferenciar ainda mais a pluma nacional dentre as commodities do mercado, uma série de ações de comunicação, para estabelecer canais efetivos entre produtores e compradores, e inclui a abertura de um escritório de representação em Singapura. Além disso, a formação de uma rede de agentes em cinco países asiáticos. A meta é a liderança do ranking dos maiores exportadores em 2030. De acordo com Marcos Jank, os números apresentados por Rubin dão a dimensão do que ele chama de desafios gigantescos do algodão brasileiro. "Mais que nunca, o plano que foi traçado antes da Covid, será estratégico. A Abrapa vai ser a primeira entidade brasileira com presença física, com nome e sobrenome na Ásia, atuando em pelo menos sete países, com uma estratégia de comunicação", disse. Para Jank, o Brasil terá que seguir o exemplo de outros como Estados Unidos e Austrália, que investem há bastante tempo em promoção. "Temos diferenciais: a qualidade é extremamente elevada, mas a percepção não é ainda tão boa, porque nunca estivemos presentes", afirmou. Ele destacou escala de produção, padronização de produto, rastreabilidade total em nível de talhão, qualidade e sustentabilidade como atributos do algodão nacional. "Todas essas vantagens competitivas são fruto de um trabalho extraordinário que a Abrapa fez ao longo dos anos, mas faltava um esforço em comunicar", ponderou. À frente dos recordes No debate, o presidente da Anea, Henrique Snitcovski, enfatizou a participação de 20% do Brasil sobre o mercado global, mas disse que há ainda muito espaço para avançar, no total das importações pelos países. "Na China, onde o share do algodão brasileiro era em torno de 10%, passamos para mais de 30%. Em Bangladesh, temos crescido bastante, mas ainda somos a origem de apenas 10% do que o país importa. Temos condições de ir muito mais longe", afirmou. Snitcovski destacou a organização do setor como essencial para que o Brasil pudesse se estruturar para escoar números recordes de pluma nos últimos anos.   Para esta safra, a Anea revisou os números previstos, de 2,05 milhões de toneladas, para 1,95 milhões de toneladas de algodão, no final do ciclo, em julho próximo. "Com esse total, estamos à frente de qualquer recorde histórico que já tivemos", comemorou. Foco em geopolítica Representando os produtores, Milton Garbugio manifestou sua preocupação com a possível retração de área. "Fizemos muitos investimentos nas fazendas. O algodão é a cultura de maior custo, dentre todas as que plantamos. Por isso, ociosidade é muito cara para a gente", lamentou. Porém, diante da crise, Garbugio vê oportunidades. "Acreditamos que haja muito boas perspectivas, mesmo nessa turbulência, e estamos trabalhando nelas. Somos obrigados, agora, a entender não apenas de produzir e vender a fibra. Temos de pensar em termos de geopolítica. Acreditamos nesse projeto; fomos audaciosos. Temos tudo para conquistar mais espaço e preferência, graças ao trabalho que já desenvolvemos, estruturando o setor e agregando valor à nossa fibra", concluiu Garbugio.

Promoção do Algodão Brasileiro
24 de Abril de 2020

Encontrar meios de diferenciar o algodão brasileiro no mercado nacional e internacional foi um desafio para a Abrapa desde a sua fundação, há 20 anos. Com o passar do tempo, esse desafio virou um compromisso, um dos quatro que a entidade definiu como pilares: qualidade, sustentabilidade, rastreabilidade e promoção. Essa preocupação com promoção e marketing vem, em parte, da exigência, cada vez maior do consumidor, seja ele o cliente imediato, a indústria, ou a ponta final da cadeia. Mas sem os grandes diferenciais do algodão brasileiro – campeão em sustentabilidade, excelente em qualidade, com volume de escala e 100% rastreável – nem a melhor propaganda do mundo ia adiantar. Nas últimas duas décadas, graças a massivos investimentos, dos produtores individualmente, ou através da Abrapa e afiliadas estaduais, a cotonicultura brasileira deu uma guinada em seu posicionamento de mercado. O país, que chegou a importar algodão no início da década de 1990, virou o segundo maior exportador global da pluma. Nosso algodão alcançou altos níveis de qualidade, com investimento em pesquisa e tecnologia de ponta e os processos usados em sua produção, vêm sendo aprimorados por programas como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Na classificação da pluma, os avanços também foram grandes, e vêm crescendo ainda mais graças ao programa Standard Brasil HVI (SBRHVI). Já os produtores se tornaram reconhecidos como fornecedores criteriosos e confiáveis, que honram contratos, são organizados e unidos, sob as diretrizes de uma representação forte. Assim, mesmo sendo dez os estados produtores, o algodão brasileiro é um só. Com tantas coisas boas para mostrar, investir em comunicação estratégica foi um caminho natural. Aos olhos do mundo Nos últimos anos, a Abrapa tem encurtado as distâncias entre mercado global e o algodão brasileiro, investindo na comunicação corpo a corpo, e in loco. A cada ano, organiza visitas de industriais e outros players dos seus principais mercados – sobretudo, a Ásia – para conhecer o jeito brasileiro de produzir. A Missão Compradores tem encantado o público, proporcionando uma experiência única: imergir numa fazenda brasileira, visitar usinas de beneficiamento, laboratórios de classificação e ver como a diversificação de culturas e as boas práticas agrícolas estão ajudando a cotonicultura a crescer com qualidade e sustentabilidade, e como isso pode representar benefícios para o seu negócio.  A cada edição, novas indústrias são convidadas. A iniciativa conta com a colaboração de grandes tradings da fibra. Outra ferramenta estratégica é a Missão Vendedores. Nela, são os produtores brasileiros que visitam os clientes, para conhecer seu modelo de negócio e as demandas. As duas ações permitem ajustar oferta e demanda, prospectar novos mercados e oportunidade e consolidar a presença onde já existe. Elas impulsionaram o trabalho que a Abrapa já faz desde a sua criação, de estar presente nos maiores eventos da cotonicultura internacional e nacional, e também nas mais importantes publicações do setor. Made in Brazil Para se ter uma ideia do quanto o continente asiático é crucial para o algodão, basta dizer que 98% das transações comerciais com a pluma estão concentradas lá, e 82% desse mercado, em apenas sete países: China, Bangladesh, Vietnã, Turquia, Paquistão, Indonésia e Índia. Com todos os avanços da cotonicultura nacional, e a conquista do segundo lugar no ranking dos maiores exportadores, intensificar a presença na Ásia se tornou mandatório para a Abrapa. Vender ou exportar a fibra deixou de ser suficiente para marcar presença. A dimensão alcançada como player nesse mercado exige presença institucional, cultural e diplomática: presença física. No final de 2019, a Abrapa firmou um convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para a criação do Projeto Setorial de Promoção das Exportações do Algodão Brasileiro, um plano que abarca desde a criação de uma marca própria para diferenciar ainda mais a pluma nacional dentre as commodities do mercado, uma série de ações de comunicação para estabelecer canais efetivos entre produtores e compradores, e inclui a abertura de um escritório em Singapura. E, para reforçar a presença, uma rede formada por agentes em cinco países asiáticos. A meta é audaciosa: a liderança do ranking dos maiores exportadores já em 2030. Diversas iniciativas já estão em desenvolvimento, como a plataforma de business intelligence (BI), mas o grande desafio é criar uma marca para o algodão brasileiro, para transformar em valor tudo o que ele tem de melhor, fruto de muito esforço e investimento ao longo de vinte anos. Um trabalho robusto de branding está em curso. Transformar o algodão brasileiro em grife é garantir para o comprador que cada fardo de pluma com origem Brasil contém muito mais que algodão: tem qualidade, rastreabilidade, sustentabilidade, credibilidade, história, e todo o charme de ser brasileiro. Moda com consciência   Conversar com o consumidor brasileiro, lá no ponto de venda, era um desejo antigo da Abrapa. Entre as duas pontas da cadeia, existia um silêncio histórico: um vácuo preenchido quase sempre com informações equivocadas e ruídos. Saber quem era esse cliente foi o primeiro desafio, e pesquisas sobre hábitos de consumo por matéria-prima eram raras ou inexistentes, até mesmo em segmentos como a indústria. Mas ninguém duvidava que o seu nível de exigência é grande e tem aumentado na velocidade da evolução da tecnologia e dos meios de comunicação. Foi assim que nasceu, em 2016, o Sou de Algodão, um movimento único no Brasil, como iniciativa da Abrapa, suas 10 associadas e o IBA (Instituto Brasileiro de Algodão). Seu propósito é despertar uma consciência coletiva em torno da moda responsável e do consumo, através de plataformas digitais, ações pontuais e da união de todos os agentes da cadeia produtiva e da indústria têxtil: homens e mulheres do campo, tecelões, artesãos, fiadores, designers de moda, estilistas, varejistas e estudantes. O movimento surgiu da consciência dos cotonicultores de que, para conquistar a preferência nos corações e mentes do consumidor final, é preciso mais que oferecer qualidade e preço. Se um trabalho tão importante já havia sido construído na base da cotonicultura, por que não incentivar as pessoas a enxergar esse valor ao escolher uma matéria prima que, por si só, já atende a tantos requisitos: natural, biodegradável, versátil, antialérgica e confortável? Para transformar o algodão em um produto com alto valor agregado diante do mercado de moda do país, o Sou de Algodão valoriza e conscientiza profissionais da cadeia da fibra, dialoga com o público final com ações, conteúdo e faz parcerias com marcas e empresas do setor têxtil. O movimento tem ações estratégicas para cada um dos públicos, desde os que criam e lançam tendências, até os influenciadores, que as propagam, passando pela academia. Levar essas pessoas para conhecer de perto o processo produtivo também é parte das ações, através das cotton trips. Para a maioria desses profissionais, estar numa fazenda é uma experiência totalmente inusitada e disruptiva. O Sou de Algodão levou a cidade para o campo e também colocou o campo na passarela, desfilando na 46ª edição da Case de Criadores. No lugar de modelos profissionais, pessoas ligadas à fibra, como produtores rurais e uma engenheira agrônoma. E é sobre essas histórias de verdade que fala o seu terceiro manifesto. (Veja aqui https://www.youtube.com/watch?v=8GIaan1_AZw ) A cadeia abraçou o movimento, que hoje conta com mais de 190 marcas parceiras, e entre as empresas que se juntaram ao Sou de Algodão, estão as apoiadoras: FMC Agrícola, Bayer, BASF, CCAB, Corteva, John Deere, Syngenta e Tama. Desde o lançamento, o Sou de Algodão já esteve presente ou realizou 15 desfiles na São Paulo Fashion Week e na Casa de Criadores, promoveu um concurso para estudantes, e soma mais de 100 mil seguidores em seus canais digitais. Para saber mais sobre o movimento acesse: www.soudealgodao.com.br

Rastreabilidade
23 de Abril de 2020

Cada fardo de algodão produzido no Brasil tem um "RG": a etiqueta do Sistema Abrapa de Identificação (SAI). Com ela, pode-se rastrear com exatidão desde a fazenda onde ele foi produzido, a usina na qual foi beneficiado, e ter acesso a uma série de informações, como classificação, com os índices de análise instrumental por High Volume Instrument (HVI). É possível até mesmo saber se a fibra foi certificada pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e licenciada pela Better Cotton Initiative (BCI), que atestam a sustentabilidade da pluma. O SAI faz parte da estratégia de rastreabilidade, uma das quatro linhas-mestras, ou compromissos, da Abrapa, que incluem qualidade, sustentabilidade e promoção. O sistema começou a ser elaborado em 2002 e foi lançado em 2004. Desde então, está em aprimoramento constante, à medida em que a tecnologia evolui e ele recebe novos inputs. Sua implementação representou um passo muito importante para a cotonicultura nacional, dando ao ambiente de negócios com o algodão brasileiro mais transparência e, consequentemente, credibilidade. Um reforço e tanto à imagem da fibra produzida no País. As etiquetas SAI são codificadas por uma das mais antigas e renomadas empresas do ramo, a GS1 Brasil. A expedição das tags é rigorosamente controlada pela Abrapa e a impressão é executada por gráficas credenciadas pela entidade para imprimi-las. A rastreabilidade permite traçar um mapa fiel da produção nacional de algodão, dá à Abrapa ferramentas para elaborar programas estratégicos para o desenvolvimento do setor, colocando o Brasil na vanguarda do mercado mundial e agrega confiança para quem vende e para quem compra o algodão brasileiro. Além disso, neste momento em que o consumo se torna, cada vez mais, demandante de padrões de qualidade e sustentabilidade, assegurar origem e processos é fundamental.

Boletim de Inteligência de Mercado Abrapa
23 de Abril de 2020

ALGODÃO PELO MUNDO #15                   24/Abr/20 Boletim de Inteligência de Mercado Abrapa com as principais notícias do mundo do algodão no seu WhatsApp 📉 Algodão em NY - Com rumores dos Chineses indo às compras e de frustações de colheita na Austrália, os contratos de algodão negociados na Bolsa de NY (ICE) tiveram uma semana de alta.  Além disso, na quinta-feira, o USDA divulgou dados positivos sobre vendas e exportações de algodão americano, o que também ajudou. Nas últimas duas semanas as vendas tinham sido negativas, e a expectativa do mercado era ruim para esta semana também.  Os preços da pluma subiram 7,7% esta semana. 🇧🇷 Webinar Abrapa - A Abrapa inicia na próxima semana o Ciclo de Debates: Promoção e Presença do Algodão Brasileiro no Exterior.  Com apoio da Apex Brasil e ANEA, o tópico do primeiro debate é: Reflexos do Covid-19 no Mercado Global de Algodão.  Participarão do webinar na segunda (27/4) às 18:00hs (Brasília): Marcos Rubin (Agroconsult), Marcos Jank (Insper), Milton Garbugio (Abrapa) e Henrique Snitcovski (ANEA). 🇨🇳 China - A agência de notícias Reuters informou esta semana que a China planeja comprar 10 milhões de toneladas de soja, 20 milhões de toneladas de milho e 1 milhão de toneladas de algodão para as reservas estatais, em parte para proteger contra interrupções no fornecimento (de alimentos), mas também para iniciar o cumprimento das suas obrigações comerciais da Fase 1 do Acordo Comercial com os EUA, assinado no início do ano.  Uma das fontes consultadas pela agência disse que não está claro quando as compras ocorrerão, mas o rumores já foram suficientes para animar o mercado esta semana. 😷 Coronavírus - As atividades comerciais nos EUA, Europa e Japão entraram em colapso este mês, quando os governos intensificaram as medidas contra a disseminação de COVID-19, segundo pesquisas com gerentes de compras divulgadas esta semana (chamadas PMIs).  Juntos, a Europa, os EUA e o Japão representam quase 50% do consumo global de vestuário. 😷 Coronavírus 2 - Alguns economistas acreditam que os resultados de Abril das pesquisas de atividade comercial (PMIs) são o "fundo do poço", porque alguns países - incluindo a Alemanha - e alguns estados dos EUA começaram a diminuir suas restrições e outros países e estados devem começar a reabrir a economia a partir de Maio. O ritmo da recuperação vai depender do sucesso na contenção do vírus, da rapidez com que as economias serão reabertas e do comportamento do consumidor pós reabertura econômica. 🇺🇸 Plantio - O USDA divulgou no dia 20/4 o relatório sobre o progresso do plantio para a safra 2020. O plantio ainda está no seu início.  Segundo o relatório, até 19/Abril, 11% da área americana de algodão já havia sido plantada.  Este avanço é ligeiramente superior à média de 9% dos últimos 5 anos para a mesma data.  Na última safra, os EUA produziram 4,3 milhões de toneladas de pluma. 💰 Subsídios - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um pacote de 19 bilhões de dólares para ajudar o setor agrícola a superar a recessão econômica causada pela pandemia de COVID-19.  16 bilhões serão destinados diretamente aos agricultores, e os 3 bilhões restantes serão usados para comprar alimentos para os mais necessitados. 🇦🇺 Austrália - Foi iniciada a colheita de uma das safras mais difíceis já registradas na histórica do tradicional produtor de algodão.  A área de algodão da Austrália em 2020 é a menor desde a década de 1980, com apenas 60.000 hectares, menos de 25% da área de 292.380 ha do ano passado, de acordo com as estimativas da Cotton Austrália. 🇨🇳 China 2 - O China Agricultural Outlook 2020-2029 foi divulgado no início desta semana por órgãos oficiais do país. Segundo o relatório, a área de algodão do país diminuirá de 3,33 milhões de hectares para 3,12 milhões em 2029. A produção ao longo deste período é mantida estável em torno de 5,8 milhões de toneladas, graças a ganhos de produtividade.  A área plantada na safra 20/21 deverá ser de 3,16 milhões de ha (-5% em relação à última safra). 🚢 🇧🇷 Exportações - O Brasil exportou 16 mil toneladas de algodão em pluma na terceira semana de Abril.  O total exportado nas 3 primeiras semanas de Abril foi de 48,3 mil tons.  Com estes números, o Brasil alcançou a marca histórica de 1,7 milhões de toneladas de algodão exportados de Ago/19 a Abril/20 (parcial). 📉📈 Preços - A tabela abaixo ⬇ mostra os últimos movimentos de preços, índices e câmbio que impactam o mercado de algodão.

Sustentabilidade: a base de uma cotonicultura feita para durar
20 de Abril de 2020

O Brasil se consagrou, nas últimas safras, como o maior fornecedor mundial de algodão sustentável. Esse posto é confirmado por uma entidade mundialmente conhecida, a ONG suíça Better Cotton Initiative (BCI). O país tem participado com uma média de 30% no montante da pluma licenciada BCI, o que equivale a quase um terço das negociações com a commodity no planeta. Mas se a BCI dá credibilidade e visibilidade internacional ao algodão brasileiro, é nas nossas lavouras que o conceito de sustentabilidade – ambiental, social e econômica – é adotado com ainda mais rigor. Isso porque o Brasil tem o seu próprio programa de certificação de boas práticas nas fazendas, o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), e ele tem como arcabouço as legislações trabalhista e ambiental do país, consideradas das mais completas e exigentes do mundo. Atualmente, cerca de 80% do algodão brasileiro é certificado pelos programas ABR/BCI. Essa união entre as iniciativas, no país, teve início em 2013, com uma operação referenciada (benchmark) unificando seus protocolos. Desde então, o produtor que adere ao ABR pode, automaticamente, optar por ser, também, licenciado pela BCI. A adesão aos programas é voluntária, e, ao fazê-la, o cotonicultor se compromete a cumprir um rígido protocolo. São 224 itens a serem atendidos, só na fase de verificação para diagnóstico que antecede a certificação. Depois, outros 178 para a finalização do processo, que culmina com a expedição do certificado e a consequente emissão dos selos. Esse último número corresponde à soma dos indicadores de sustentabilidade do programa ABR, que são 153, com as 25 exigências da BCI. São oito os critérios observados: Contrato de trabalho. Proibição do trabalho infantil Proibição de trabalho análogo a escravo ou em condições degradantes ou indignas. Liberdade de associação sindical Proibição de discriminação de pessoas Segurança, saúde ocupacional, e meio ambiente do trabalho. Desempenho ambiental Boas práticas agrícolas O ABR, assim como a BCI, tem como fundamento o incremento progressivo das boas práticas sociais, ambientais e econômicas nas unidades produtivas de algodão. Elas se lastreiam nos três pilares da sustentabilidade:   Pilar Social Centrado na saúde, segurança e bem-estar do trabalhador. Pilar Ambiental Alicerçado no desempenho ambiental e nas boas práticas agrícolas, promove a relação saudável entre o homem e a natureza, com foco na exploração correta dos recursos naturais. Pilar Econômico O algodão sustentável, sob o prisma do pilar econômico, é aquele que remunera o cotonicultor, motivando-o a continuar na atividade. A esperada consolidação e a prosperidade do negócio colaboram para a geração de riquezas e desenvolvimento social no local onde o empreendimento está estabelecido e também nos âmbitos estadual e nacional.   Etapas para participação e certificação. A certificação é o resultado de três etapas principais, sendo a primeira um diagnóstico da unidade produtiva, seguido por uma correção de possíveis não conformidades. Por último, vem a auditoria, propriamente dita. Todas estas etapas são amparadas por normas de conduta imersas nos oito critérios.   Estaduais em campo  A operacionalização do ABR/BCI se dá no âmbito das associações estaduais de produtores de algodão filiadas à Abrapa. São elas que cuidam, na prática, da implementação dos programas, indo a campo para orientar as fazendas que aderem à iniciativa e vistoriando o cumprimento de todos os critérios. Para isso, contam com equipes multidisciplinares, que incluem engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas e de segurança do trabalho. Auditorias  Para garantir isenção no processo de certificação/licenciamento, as fazendas são auditadas por empresas de terceira parte, de idoneidade reconhecida internacionalmente. Atualmente (safra 2019/2020), elas são a ABNT, o Gênesis Group e a Bureau Veritas. Sustentabilidade como propósito Sustentabilidade – para ser comprovada e reconhecida pelo mercado, dentro e fora do país – requer trabalho e investimento para cumprir protocolos. É preciso adequar estruturas e processos e, na maioria das vezes, mudar culturas empresariais. A decisão de aderir aos programas, portanto, não se restringe aos produtores, donos dos empreendimentos agrícolas. Ela alcança todas as pessoas envolvidas na produção nas fazendas. Mas quando esse pacto com a sustentabilidade acontece, os benefícios se estendem para muitas pessoas, e para além do algodão. A cotonicultura, da forma como é empreendida no Brasil nos últimos 20 anos, faz parte de uma matriz produtiva variada. Não existe monocultura: quem planta algodão no Centro Oeste do Brasil também produz soja, e, muito provavelmente, milho, milheto, sorgo e outros, em sistema de rotação. As boas práticas agrícolas, gerenciais, sociais e ambientais repercutem, portanto, em todo o negócio da fazenda. Tamanho desafio não poderia ser baseado em modismos ou tendências, e, sim, na consciência de que somente o pensar e agir sustentáveis podem garantir uma cotonicultura próspera. E que os recursos para a empreender estarão também disponíveis para as gerações de hoje e de amanhã.